terça-feira, 5 de março de 2013

O Bosque das Macieiras


Estava sentada sob a macieira no centro do jardim, e apesar do forte e doce perfume que vinha das maçãs maduras, ela ainda podia sentir o cheiro da floresta de carvalho pela manha. Sua pele lembrava-se do suave toque de suas mãos e isso a fazia arrepiar, e quando fechou os olhos pode ver claramente aquele encantador brilho âmbar que invadiu sua alma, o que a fez para de respirar por quase dois segundos. 
A casa em que estava hospedada desde que chegou a Malahide, era uma antiga propriedade da família, que estaria abandonada não fossem os cuidados dos Flynn. Melvina era uma senhora robusta, com cabelos cor de fogo que, apesar da aparência mal humorada, era doce e gentil como uma mãe; já o senhor Flynn era alto, esguio, com longos cabelos loiros que usava preso por uma tira de couro. Barrie Flynn era o melhor arqueiro que existia no condado de Fingal. Os Flynn cuidavam da propriedade desde que sua família partira para as terras de Tzhir em busca de novas conquistas. Era uma casa simples, mas muito segura, pois fora construída pelos seus antepassados com as pedras do rochedo. O jardim das macieiras fora plantado pela sua tataravó, que as cultivava em homenagem a Ceridween, a quem ela aprendeu a respeitar e honrar. 
Sentada ali, sob a macieira central, ela podia sentir toda a energia que vinha da terra, e isso permitia que sua mente vagasse livremente por entre mundos e tempos. Fechou os olhos novamente e procurou relembrar do caminho até a colina, pode ver claramente a pequena árvore, sentir a brisa que vinha do mar e ouvir as ondas quebrando no rochedo, mas não sentia o cheiro da floresta de carvalho, ele não estava ali. Desde aquela manhã, depois que deixou seu abraço para protegê-lo de Fergus, todos os dias ela relembrava as lições aprendidas com sua avó e viajava até a pequena árvore na esperança de encontrá-lo novamente, mas todas as vezes retornava sozinha, sem nem um sinal do jovem estranhamente belo de traços bem marcados e mãos delicadas. Todos os dias ela procurava pela doce melodia que havia conquistado seu coração, mas o único som que ouvia era das ondas quebrando no rochedo.
De volta ao jardim das macieiras, ela encolhia-se num abraço solitário, sentindo o frio da tarde que chegava ao fim, e antes que pudesse evitar, uma lágrima escorria pela sua face pálida. Seria mais uma tarde fria não fosse Fergus, que estava deitado ao seu lado, erguer-se para secar suas lágrimas com um amor quase sombrio refletido em seus grandes olhos vermelhos.
Outra vez havia esperado por ele, e outra vez Fergus a protegeu.