A lua já estava alta no céu, e o vento gelado que soprava
das colinas umedecia sua face. Ela estava caminhando há quase seis dias, seus
pés inchados e feridos a obrigaram a reduzir a marcha, não dava para saber
quanto ainda tinha para caminhar, a estrada a sua frente estava coberta por uma
neblina densa que parecia querer abraça-la, a falta de visão a fazia lembrar-se
de como chegara ate ali, mas isso ela queria esquecer. Desde que fugira das
terras de Tzhir, carregando consigo Fergus, aquele que um dia fora seu
carrasco, esta era a primeira vez que se lembrava daqueles dias sem lagrimas
nos olhos.
Ela acordou sob o velho carvalho sentindo a brisa que vinha
do mar, podia ouvir o som das ondas que quebravam na parede do rochedo e uma
suave melodia, que fazia seu coração sorrir. Levantou-se, ainda meio sonolenta
e um pouco fraca da caminhada que quase lhe tirara a vida, e seguiu aquele som
que parecia sair de uma pequena flauta, a musica era tão doce e singela que
tocou seu coração e fez uma pequena lágrima rolar pela sua face branca e
pálida.
Precisou caminhar por alguns minutos até chegar à fonte da
melodia; ao longe, sentado sob a sombra de uma pequena arvore, pode ver o vulto
do que parecia ser um garoto, ao aproximar-se um pouco mais percebeu que na
verdade era um belo rapaz, jovem, mas com traços bem marcados por uma barba
cerrada e uma pequena cicatriz que o deixava estranhamente belo. Tinha a pele
alva, quase tão pálida quanto a dela, cabelos negros e olhos de um castanho que
pareciam pedras de âmbar com a luz refletida
suas mãos finas seguravam a flauta com delicadeza, e tiravam dela as
mais belas notas. Ficou por algum tempo ali, ao longe, observando aquela cena
que lhe trazia tanta tranquilidade. Estava tão encantada e fascinada pela
imagem do rapaz que não percebeu que a melodia cessara, e que agora era ela a
ser observada, sentiu o ar faltar e seu corpo tremer quando seus olhos
encontraram os dele, e teria caído não fosse aqueles braços envolverem seu
corpo e segura-la. Ele estava tão perto que podia sentir o pulsar de seu
coração, seu cheiro lembrava as florestas de carvalho ao amanhecer, seus
braços, aparentemente frágeis eram
fortes e o toque de sua mão na pela descoberta em suas costas a fez corar.
Teria ficado ali o dia todo, não fosse o rosnar raivoso de Fergus que estava em
guarda, pronto para atacar tão logo ele a soltasse. Não! - Disse ela,
soltando-se daquele abraço e saltando para frente do enorme cão de dentes
amarelos, e acariciando seu pelo o fez deitar-se novamente.
Fergus estava sempre ao seu lado, afastando toda e qualquer
pessoa que tentasse aproximar-se, e seu temperamento agressivo atacava todos
que ousassem toca-la, portanto, poderia afirmar que este era um rapaz de sorte,
e isto a fez sorrir.
Voltou a escrever!
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