segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Ecos em cores



A lua já estava alta no céu, e o vento gelado que soprava das colinas umedecia sua face. Ela estava caminhando há quase seis dias, seus pés inchados e feridos a obrigaram a reduzir a marcha, não dava para saber quanto ainda tinha para caminhar, a estrada a sua frente estava coberta por uma neblina densa que parecia querer abraça-la, a falta de visão a fazia lembrar-se de como chegara ate ali, mas isso ela queria esquecer. Desde que fugira das terras de Tzhir, carregando consigo Fergus, aquele que um dia fora seu carrasco, esta era a primeira vez que se lembrava daqueles dias sem lagrimas nos olhos.
Ela acordou sob o velho carvalho sentindo a brisa que vinha do mar, podia ouvir o som das ondas que quebravam na parede do rochedo e uma suave melodia, que fazia seu coração sorrir. Levantou-se, ainda meio sonolenta e um pouco fraca da caminhada que quase lhe tirara a vida, e seguiu aquele som que parecia sair de uma pequena flauta, a musica era tão doce e singela que tocou seu coração e fez uma pequena lágrima rolar pela sua face branca e pálida.
Precisou caminhar por alguns minutos até chegar à fonte da melodia; ao longe, sentado sob a sombra de uma pequena arvore, pode ver o vulto do que parecia ser um garoto, ao aproximar-se um pouco mais percebeu que na verdade era um belo rapaz, jovem, mas com traços bem marcados por uma barba cerrada e uma pequena cicatriz que o deixava estranhamente belo. Tinha a pele alva, quase tão pálida quanto a dela, cabelos negros e olhos de um castanho que pareciam pedras de âmbar com a luz refletida  suas mãos finas seguravam a flauta com delicadeza, e tiravam dela as mais belas notas. Ficou por algum tempo ali, ao longe, observando aquela cena que lhe trazia tanta tranquilidade. Estava tão encantada e fascinada pela imagem do rapaz que não percebeu que a melodia cessara, e que agora era ela a ser observada, sentiu o ar faltar e seu corpo tremer quando seus olhos encontraram os dele, e teria caído não fosse aqueles braços envolverem seu corpo e segura-la. Ele estava tão perto que podia sentir o pulsar de seu coração, seu cheiro lembrava as florestas de carvalho ao amanhecer, seus braços, aparentemente frágeis  eram fortes e o toque de sua mão na pela descoberta em suas costas a fez corar. Teria ficado ali o dia todo, não fosse o rosnar raivoso de Fergus que estava em guarda, pronto para atacar tão logo ele a soltasse. Não! - Disse ela, soltando-se daquele abraço e saltando para frente do enorme cão de dentes amarelos, e acariciando seu pelo o fez deitar-se novamente.
Fergus estava sempre ao seu lado, afastando toda e qualquer pessoa que tentasse aproximar-se, e seu temperamento agressivo atacava todos que ousassem toca-la, portanto, poderia afirmar que este era um rapaz de sorte, e isto a fez sorrir.